
Exercícios físicos para pessoas com ansiedade, estresse e depressão
Os exercícios físicos são amplamente reconhecidos como uma excelente maneira de aprimorar a saúde geral e reduzir o risco de desenvolver diversas doenças. No entanto, uma nova pesquisa revela que a prática regular de exercícios oferece benefícios ainda mais significativos para a saúde cardiovascular, especialmente para aqueles que enfrentam condições como ansiedade, estresse e depressão.
Durante um estudo apresentado na 71ª Sessão Científica Anual do Colégio Americano de Cardiologia em abril, pesquisadores descobriram que a prática regular de atividade física quase dobrou os benefícios cardiovasculares para indivíduos que sofrem de depressão ou ansiedade, em comparação com aqueles que não possuem esses diagnósticos. Essa descoberta sugere que o exercício não apenas melhora a saúde física, mas também atua como um poderoso aliado na saúde mental.
Os dados coletados indicam que as pessoas que se dedicaram à quantidade recomendada de atividade física semanal – ou seja, 150 minutos – apresentaram 17% menos probabilidade de experienciar um evento cardiovascular adverso significativo em comparação àquelas que se exercitaram menos. Entre os indivíduos que atingiram a meta de 150 minutos, aqueles que sofriam de ansiedade ou depressão tiveram uma redução de risco de 22%, em contraste com uma redução de apenas 10% observada entre aqueles sem esses transtornos. Esses números evidenciam a importância do exercício na promoção da saúde cardiovascular, especialmente para populações vulneráveis.
Detalhes do estudo
A análise envolveu mais de 50.000 pacientes do banco de dados do Massachusetts General Brigham Biobank. Dentro desse grupo, pouco mais de 4.000 pacientes sofreram um evento cardiovascular significativo, como um ataque cardíaco, angina (dor no peito decorrente de obstrução arterial) ou foram submetidos a procedimentos para desobstruir artérias cardíacas. Esse amplo conjunto de dados possibilitou uma análise robusta sobre os efeitos do exercício na saúde cardiovascular em diferentes grupos populacionais.
Para conduzir o estudo, os pesquisadores inicialmente avaliaram as taxas de eventos coronarianos entre os pacientes que relataram, por meio de questionários, que praticavam pelo menos 500 minutos de equivalente metabólico (MET) por semana. Esse valor corresponde às diretrizes de prevenção primária estabelecidas pelo ACC e pela American Heart Association, que recomendam 150 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana. Os resultados mostraram que a prática regular de exercícios está intimamente ligada à redução do risco cardiovascular.
Os resultados revelaram que pacientes com depressão obtiveram mais do que o dobro do benefício em termos de redução do risco cardiovascular em comparação com aqueles que não apresentavam essa condição. Um efeito semelhante foi observado em indivíduos com ansiedade. Esses dados são significativos, pois indicam que, além de melhorar a condição física geral, o exercício pode ter um impacto direto na saúde mental e na prevenção de doenças cardiovasculares.
Hadil Zureigat, MD, pesquisador clínico de pós-doutorado no Massachusetts General Hospital em Boston e principal autor do estudo, destacou em um comunicado à imprensa que os resultados não sugerem que o exercício seja benéfico apenas para pessoas que já possuem diagnósticos de depressão ou ansiedade. Em vez disso, o estudo enfatiza que a atividade física pode ajudar qualquer pessoa a se sentir melhor e, potencialmente, a reduzir o risco de doenças cardiovasculares. Para aqueles que lidam com condições psiquiátricas crônicas relacionadas ao estresse, o exercício pode representar uma estratégia eficaz para abordar simultaneamente a saúde mental e a saúde do coração, atingindo dois objetivos com uma única ação.
Michael Emery, MD, codiretor do Sports Cardiology Center da Cleveland Clinic em Ohio e que não participou do estudo, comenta sobre os benefícios da atividade física. Ele afirma que “o exercício é uma medicina tanto física quanto psicológica”, e que esses fatores interagem de maneira que, ao melhorar a saúde física, o estado psicológico também se fortalece. Além disso, quando a saúde mental é aprimorada, isso pode levar a melhorias no estado físico. Essa conexão é tanto direta, relacionada aos níveis de estresse hormonal, quanto indireta, através de hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada.
O impacto da pandemia de COVID-19 nas taxas de depressão e ansiedade foi significativo. De acordo com dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), 11% dos adultos nos Estados Unidos relataram sintomas de ansiedade ou depressão em sua pesquisa de 2019. Contudo, em dezembro de 2020, esse número saltou para 42%. Embora tenha havido uma queda para 31% em dezembro de 2021, os níveis ainda permanecem acima dos índices pré-pandemia. Isso evidencia a necessidade urgente de abordagens que ajudem a mitigar os efeitos do estresse e da ansiedade na população.
Além disso, as doenças cardíacas continuam a ser a principal causa de morte nos Estados Unidos. Os pesquisadores do estudo atual ressaltam a importância do exercício na manutenção da saúde do coração e na redução do estresse. A prática regular de exercícios não apenas reduz o risco de doenças cardíacas, mas também pode melhorar a qualidade de vida, proporcionando um sentimento de bem-estar psicológico.
“Atendo muito mais pacientes em minhas clínicas agora do que no passado”, afirma Dr. Emery. “Embora muitos não apresentem doenças cardíacas evidentes, eles estão lidando com um estresse intenso relacionado à pandemia e ao impacto que isso teve em suas vidas. Isso, por sua vez, está afetando negativamente sua saúde geral.” Essa afirmação ressalta a conexão entre saúde mental e saúde física, sublinhando a importância de um enfoque holístico na promoção do bem-estar. Portanto, incentivar a prática de exercícios físicos pode ser uma das chaves para melhorar a saúde pública em um momento em que o estresse e a ansiedade estão em níveis alarmantes.